Marina Grossi: consciência sustentável nas empresas

12/07/2010 21:54

A preocupação com o meio ambiente já é realidade no mundo corporativo. Grandes empresas enxergaram que preocupação ambiental está totalmente associada a manter a própria sustentabilidade da empresa. 

Em entrevista para a revista Carreira & Sucesso, Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. O CEBDS existe há 13 anos e é uma coalizão dos maiores e mais expressivos grupos corporativos do Brasil. Com faturamento anual correspondente a 40% do PIB nacional, essas companhias geram juntas mais de 600 mil empregos diretos e um número maior ainda de empregos indiretos.

Marina fala sobre sua carreira, aponta a responsabilidade que as organizações devem ter com a sustentabilidade, e apresenta as oportunidades de novos negócios para as companhias e profissionais.

Ótima leitura!

Você tem um vasto currículo profissional na área de sustentabilidade. Como sua carreira se desenhou para esse ramo?

Sou economista por formação e em 1997, trabalhei no serviço público, na área de planejamentos. Fui negociadora do governo brasileiro para a área de Mudança do Clima e cuidei particularmente da construção do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, no Ministério de Ciências de Tecnologia. Esse foi meu primeiro contato profissional com a área de sustentabilidade. Nesta época, o tema era quase que desconhecido, poucas pessoas eram envolvidas com ele.

Os assuntos ligados às alterações climáticas são geopolíticos e têm relação com nosso padrão de vida atual. Ele permeia o universo dos transportes, planejamento urbano, entre outros, do nosso dia a dia. É uma questão que sempre me inquietou. Acabei ficando mais tempo agindo nesse segmento porque o leque de opções para atuar é tão grande que a diversificação de conhecimento é maior e sempre existem novos desafios. Então, fui assessora do Ministério – assessorei o ministro Ronaldo Sardenberg -, depois trabalhei na coordenação das Câmaras Temáticas de Mudança do Clima e Energia, e fui coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Posteriormente, abri uma consultoria, chamada Fábrica Ethica Brasil (FEB) e comecei a me envolver cada vez mais na área de sustentabilidade. A FEB focou bastante seus serviços em finanças sustentáveis. Buscando novos trabalhos nesta área, acabei chegando até o CEBDS, desenvolvi atividades que tomaram muito meu tempo lá dentro e acabei me tornando assessora da presidência, e posteriormente, diretora.

No mês de abril você assumiu a presidência do Conselho. Qual a importância de liderar uma instituição de tamanha relevância, onde participam grandes empresas nacionais e multinacionais?

O CEBDS tem muito a ver com a minha vida porque no passado eu era de esquerda, com a preocupação em trabalhar com causas sociais. E acho que a sustentabilidade tem vários valores éticos que permeiam o pilar dessa atuação que é ter o lado ambiental, social e econômico interagindo.

O Conselho é uma plataforma do setor privado voltado para a sustentabilidade. As 51 maiores empresas do país são participantes. O fato de serem grandes organizações faz com que trabalhemos com o conceito de liderança. Como somos um grupo estratégico e interferimos na gestão das companhias, elas nos procuram para um aprendizado e intercâmbio maior na questão sustentável. Conversamos com a sociedade civil e governo, e temos a credibilidade por sermos o braço brasileiro do World Business Council for Sustainable Development (uma coligação de altos executivos de 145 empresas líderes mundiais, voltadas para a excelência ambiental e princípios do desenvolvimento sustentável). A nossa visão é que os negócios nesse meio só são possíveis com o conceito de sustentabilidade instalado no DNA das corporações.

O mundo está se tornando mais verde, e para evoluir nesse quadro precisamos ir além dos bons exemplos de empresas. Necessitamos de conversas contínuas com o Governo para que ações desenvolvidas nas organizações virem políticas públicas e que tenham um marco regulatório para tal.

Como as organizações devem atuar nesse contexto?

O desafio para as grandes empresas é que elas têm uma capacidade de execução muito alta e existe a possibilidade, no mundo dos negócios, de tornar tangíveis os valores sustentáveis. É necessário que tragam para o centro da organização toda a série de elementos que, hoje, não são tão valorizados assim como a água e o ar poluído. Hoje, mensurar e vender crédito de carbono são exemplos disso, e companhias com essas práticas avançam no sentido de dar valor ao que de fato já percebemos como importante, mas que não é bem trabalhado ainda. A sociedade só vai enxergar a temática com a devida importância quando as empresas trabalharem efetivamente esses assuntos como negócio.

Pode nos dar um exemplo?

Na questão de mudança climática, juntar o Protocolo de Quioto, que é um tratado ambiental para não elevar a emissão dos gases de efeito estufa além de um nível perigoso para o planeta, que é de 2°C, há três mecanismos de mercado e um deles beneficia os países em desenvolvimento. É importante viabilizar esse tratado e colocá-lo no mundo real e dos negócios. O conceito sustentável, nos dias de hoje, não é apenas financeiro, e também não é mais a antiga bandeira dos ambientalistas de visar apenas o meio ambiente.

Que ações as empresas podem executar para conscientizar seus colaboradores na questão sustentável?

O CEBDS faz uma série de atividades com as empresas nesse sentido. Temos oito câmaras temáticas onde são discutidos assuntos como a própria sustentabilidade, mudança do clima, legislação, água, gestão, finanças e construções sustentáveis. Essa última é uma área que tendem a crescer muito no Brasil, pelo déficit habitacional existente. Nas novas edificações, ter esse conceito implantado é super importante. Construção sustentável não é necessariamente mais cara. Pelo contrário, pois apesar de ainda não existir uma escala suficiente para os preços baratearem tanto, no longo e no médio prazo o investimento é válido porque haverá menos gasto com água, durabilidade de materiais e energia.

As empresas, de modo geral, estão se preocupando em contratar profissionais com engajamento ambiental?

Há um maior compromisso, porque está sendo alterado o marco regulatório. Temos, na questão do clima, leis específicas em São Paulo e Rio de Janeiro - existem metas do governo-, e essa demanda exige profissionais que consigam entender de que maneira vão cumprir objetivos desse tipo. Identificar desperdício, aplicar a eco eficiência, por exemplo. É um novo olhar e o mercado ainda está muito carente de pessoal preparado.

A conscientização ambiental ampliou o cenário de empregos e oportunidades de novos negócios?
É, sem dúvidas, uma área que está crescendo e ainda precisa de muita qualificação. O CEDBS está tentando interferir para que as universidades preparem os estudantes para essa realidade. Eles saem do mercado sem entender bem o que é sustentabilidade e vão para mercado sem saber como trabalhar essa temática no modelo de negócio.

Existem áreas emergentes?

O Brasil tem um grande potencial para a energia eólica e solar. O tratamento de resíduos sólidos, por exemplo, e todas as atividades que englobem os chamados “empregos verdes”, que tendam para um mundo mais limpo devem ser aprimoradas. Não pode ser vista como uma área isolada. Deve ser encarada dentro de um modelo de negócio que já existe.

A sustentabilidade também é um grande desafio para as mineradoras, pois seus engenheiros não podem ter a visão que tinham no passado. É um setor que possui muito contencioso.

Qual recado você deixa para nossos leitores?

O mundo está ficando mais verde e isso significa pensar diferente. O novo profissional, independentemente de área, será aquele que vai privilegiar ações sustentáveis e valorizará um planeta mais bem conservado. Isso não combina com uma visão burocrática e apática de trabalho. Onde estiver, deve ajudar na construção desse caminho que está sendo traçado inevitavelmente.


Fonte: Jornal Carreira & Sucesso 
 

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