Brasileiro não é criativo?
10/07/2010 22:37O mito de que o brasileiro é "criativo por natureza" é apenas isso, um mito. Em essência, o perfil autocrático da sociedade brasileira, que desestimula a iniciativa das pessoas, faz com que o brasileiro, de modo geral, tenha pouca criatividade. A afirmação é do consultor Paulo Benetti, da empresa Inteligência Natural, que em agosto vai falar dos paradoxos da criatividade no CONARH 2009 - 35° Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas, promovido pela ABRH-Nacional.
"Frequentemente ouvimos que o brasileiro, famoso por seu ‘jeitinho', é uma pessoa criativa. Por outro lado, quando promovo encontros em empresas, o que mais escuto das pessoas são queixas sobre o fato de que elas não se sentem pessoas criativas. O fato é que em praticamente todos os países pobres acredita-se que o povo ‘é criativo', mas essa afirmação não se comprova na prática. Basta ver o número de patentes registradas no Brasil todos os anos, comparativamente a países como Estados Unidos ou muitos outros asiáticos", assinala Benetti, que também integra a Associação Brasileira de Criatividade e Inovação.
Segundo Benetti, as relações sociais no Brasil são autocráticas, ou seja, espera-se que as ideias e as respostas venham sempre do chefe, do líder, do presidente. Isso inibe drasticamente a criatividade, pois não ser criativo passa a ser um fator de sobrevivência em um mundo que exige a acomodação.
"A criatividade está em todos nós, mas precisa ser estimulada. É importante que as empresas percebam que a inovação, a criatividade dependem não apenas das pessoas, mas também de um ambiente que as estimule, de processos que as viabilizem e da sua materialização em um resultado, um produto, uma ação", explica.
Benetti assinala que em empresas extremamente hierarquizadas, onde as pessoas são instaladas a procederem segundo normas mais ou menos inflexíveis, é praticamente impossível esperar que aconteça o fenômeno da inovação, pois os empregados, de modo geral, vão evitar as situações de conflito.
Ele ressalta que, dependendo da indústria, do segmento onde a empresa atua, cerca de metade das boas ideias que a empresa adota pode vir dos empregados. "Mas há setores onde 90% das melhores ideias vêm dos clientes, o que revela a importância de programas que deem aos clientes oportunidades de se expressar e interagir com você", recomenda.
Autor de um dos artigos do livro "Da criatividade à inovação", a ser lançado pela Editora Papirus em Campinas (SP), no próximo dia 25/06, Benetti assinala que a capacidade de uma empresa de inovar sua posição no mercado será cada vez mais determinante do sucesso no futuro. "Notamos que as empresas criativas, inovadoras, trazem isso em seu DNA. Elas não têm problema algum para inovar, sabem como fazê-lo. Sua maior dificuldade está somente em encontrar uma boa ideia", explica.
DNA da inovação - Para Benetti, a empresa criativa e inovadora faz isso naturalmente e dispensa o apoio de comitês de inovação ou criação. Ele adverte que o primeiro passo para inovar de fato é atuar no sentido de criar um ambiente que favoreça a inovação e isso passa por profundas mudanças nas relações de trabalho. "É por isso que o tema da inovação afeta, diretamente, as áreas de Recursos Humanos, pois cabe a elas criar o ambiente ideal, que vai favorecer a criatividade. Isso passa pela revisão de modelos de gestão de pessoas e é algo que demanda tempo, perseverança e, acima de tudo, vontade de ser inovador", enfatiza.
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